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Ritos de passagem da menopausa

A menopausa – e a vida da mulher após esta transição – tem múltiplos significados. O mais simples é o biológico, assinalando o fim da fase fértil, as mudanças hormonais, as alterações físicas, psíquicas e emocionais. Outro aspecto, que pesa muito para a mulher moderna, é o medo da perda da juventude, da beleza, a diminuição da sua sexualidade e feminilidade. Ao aceitar os conceitos culturais e comportamentais da sociedade atual, a menopausa torna-se um vaticínio sombrio para a mulher que teme perder seus encantos, seu poder ou sua capacidade de realização. Mas há ainda, um outro aspecto mais profundo e complexo, de significado espiritual, que pode transformar o processo da menopausa em um verdadeiro rito de passagem.

A mulher não tem escolha em relação à ocorrência da menopausa, mas ela pode escolher suas atitudes e conceitos a respeito do fato, bem como os significados e os novos valores que esta fase da sua vida pode lhe trazer.

Nas sociedades antigas, as mulheres idosas desfrutavam de privilégios e posições de destaque, detendo o poder sacerdotal e curador e a responsabilidades das decisões nos conselhos da comunidade. As sacerdotisas oraculares de Delfos, na Grécia, eram escolhidas entre as mulheres pós-menopausa. Nas “Casas de Conselho” dos povos nativos, as anciãs têm lugares de honra e o poder de escolher os chefes do clã.

Com o advento do patriarcado e principalmente com as perseguições da Inquisição, as mulheres sábias (parteiras, curandeiras, rezadeiras, profetizas, adivinhas), começaram a ser perseguidas, difamadas e por último proibidas de exercerem seus dons. Criaram-se lendas e histórias grotescas denegrindo as figuras das bruxas corcundas com pelos no rosto e verrugas no nariz, sinais de envelhecimento da mulher. Na verdade, o que a sociedade patriarcal e a Igreja temiam, era o poder e a sabedoria das mulheres que representavam o terceiro aspecto da Deusa – o da Anciã.

Após o ostracismo a que foi relegada nos últimos 3000 anos a figura da Matriarca e da Mulher Sábia ressurge atualmente pelo movimento da espiritualidade feminina, devolvendo à mulher pós-menopausa a dignidade, o valor, o respeito e o reconhecimento de sua sabedoria.

Diferente da mulher que menstrua e que entra em contato com o seu poder interior durante a sua fase menstrual, a mulher pós-menopausa tem acesso permanente aos planos sutis, podendo ultrapassar o limiar entre os mundos sempre que quiser, não mais restringida pelo seu ciclo. Adquirindo essa nova habilidade da percepção constante dos dois mundos (o da realidade comum e o incomum, ou astral), a mulher, ao guardar seu sangue e não mais vertê-lo, torna-se uma curadora, xamã, profetiza ou sacerdotisa em potencial. Era este o dom que era reconhecido e valorizado antigamente, quando as mulheres idosas eram respeitadas como conselheiras, guardiãs das tradições, intermediárias entre a comunidade e os espíritos ancestrais, mestras nas curas, oráculos e nos ensinamentos passados para as novas gerações.

Os ritos de passagem da menopausa marcam a transição da mulher da sua antiga percepção do mundo e o despertar para a nova realidade do mundo sutil. Aceitando este processo de morrer para o passado, mergulhando profundamente na escuridão dos seus medos, ela pode renascer como uma Mulher Sábia, representante da face escura da Deusa, conselheira e guia para as mulheres mais jovens.

Trecho de O Legado da Deusa – Mirella Faur

Nota: (» ‘O Legado da Deusa – Ritos de Passagem para Mulheres´, de Mirella Faur, analisa o culto do caráter sagrado feminino ao longo dos tempos. A obra traz exercícios e práticas para facilitar o acesso à voz interior por meio da meditação, imaginação e introspecção; ensina e descreve como realizar rituais que celebram a feminilidade, determinam passagens e estágios, reconhecem e transmutam perdas e marcam a vida da mulher.

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