Se quisermos tratar a depressão, podemos aprender muito com rituais de comunidades envolvendo dança e percussão.
É provável que você ou alguém que você conhece tenha passado por depressão. Estima-se que, em média, uma em cada seis pessoas sofrerá depressão em algum momento de suas vidas, e é a principal causa de incapacidade em todo o mundo. Os sintomas podem variar de menores a muito graves.
Sentir o amor, apoio e compaixão de toda uma comunidade pode ser uma maneira muito eficaz de lidar com a depressão. Há muito a ser aprendido tratando a depressão com a sabedoria tribal das culturas tradicionais, ao invés do modo estritamente “individual” da medicina ocidental.
Andrew Solomon sofria de depressão há muitos anos. Em suas tentativas de entender melhor essa doença, sua jornada o levou ao redor do mundo, entrevistando muitas pessoas que compartilham sua aflição.
Sua pesquisa levou-o até a África Ocidental, onde ele participou de um ritual senegalês de Ndeup, um ritual tribal para a depressão, e concluiu que provavelmente era melhor do que muitas formas de terapia de grupo que ele frequentou nos EUA. Ele descreve o Ndeup como uma experiência surpreendente, mesmo que ele não acreditasse nos princípios animistas por trás dele. Além disso, ele estava incrivelmente tocado e animado que todas aquelas pessoas estavam reunidas, torcendo por ele.
Rituais africanos que são eficazes no tratamento da depressão
Muitos anos mais tarde, Solomon discutiu sua experiência com um homem ruandês, ainda incapaz de descrever inteiramente quais elementos essenciais do ritual elevara significativamente seu espírito. O homem ruandês explicou que eles têm rituais semelhantes na África Oriental e, ao comparar esses rituais com a psicoterapia ocidental padrão, deixa claro por que os rituais africanos são eficazes na redução da depressão:
“Sabe, tivemos muitos problemas com os profissionais de saúde mental do Ocidente, especialmente os que vieram para cá logo após o genocídio. Eles vieram e sua prática não envolvia ficar ao sol … o que é, afinal, onde você começa se sentir melhor. Não havia tambor ou música para fazer seu sangue fluir novamente – quando você está deprimido e para baixo, você precisa ter seu sangue fluindo. Não fazia sentido que todos tivessem tirado o dia de folga para que toda a comunidade pudesse se reunir para te levantar e trazer você de volta para a alegria.
Não houve reconhecimento da depressão como algo invasivo e externo que poderia realmente ser expulso de você novamente. Em vez disso, eles levavam as pessoas, uma de cada vez, para esses pequenos cômodos e as faziam ficar sentadas por cerca de uma hora para falar sobre coisas ruins que aconteceram com elas. Tivemos que pedir a eles que deixassem o país”. (Nota: o homem refere-se ao genocídio em Ruanda, ocorrido em 1994).
Os rituais de dança da comunidade têm sido usados para a boa saúde das culturas indígenas em todo o mundo há milhares de anos. O Dr. Bradford Keeney, antropólogo cultural e autor de “Bushman Shaman: Despertar o Espírito através da Dança Extática”, diz que “um contexto de cura é aquele em que você cria um redemoinho da força vital, uma amplificação, um movimento, uma transmissão, um campo de energia quando outra pessoa entra nela, um despertar de suas próprias fontes de cura interior é encorajado”.
Resgatando a alma para nos tornar inteiros
Diz-se que os xamãs e praticantes xamãs tratam a enfermidade resgatando a alma, restaurando o corpo físico do indivíduo ao equilíbrio e à integridade. Eles podem entrar em reinos sobrenaturais para obter soluções para problemas causados por elementos estranhos que afligem a comunidade. Além disso, esses rituais quebram o isolamento através da reconexão da tribo.
Solomon descreve como, no meio de sua própria experiência Ndeup, ele foi instruído a dizer algo que o emocionou profundamente: “Espíritos, me deixem em paz para completar o propósito da minha vida e saibam que nunca vou esquecer de vocês”. Esses rituais tribais reconhecem que um aspecto externo pode causar doenças mentais e que esse espírito ou problema não resolvido que causa a doença pode ser “descartado”.
Existem muitos fatores externos que podem causar depressão, como isolamento, pobreza e falta de educação, acesso limitado a cuidados de saúde ou falta de atividades significativas. Essas causas são significativas para o tipo de tratamento que um paciente pode receber. Em vez de culpar o indivíduo, ou esperar que “saia dele”, somos lembrados, como comunidade, a examinar o seu lugar na sociedade e olhar para o que pode ser feito para resolver os problemas subjacentes. Todos nós temos um papel na criação de uma comunidade mentalmente saudável que apoie a recuperação e a inclusão social e reduzir o estigma e a discriminação.
Tanja Taljaard – Uplift
Tradução: Tatiana Menkaiká