Será o xamanismo uma moda?
Entrar na etimologia da palavra xamanismo e sua origem, e essa generalização que se faz desta palavra a todas tradições ancestrais nativas daria um longo debate, embora fosse interessante para quebrarmos um pouco os rótulos. “Medicina” é um termo bastante adequando, porque os caminhos buscam a cura integral do ser humano.
Se é uma moda ou movimento sério, devemos lembrar que estamos lidando com humanos, somos humanos e como tal, pode ser sério, sincero, ou não. Também devemos entender que mesmo sendo “modismo”, é através desse modismo que talvez muitas pessoas sérias ou sinceras venham a descobrir e a trilhar esse caminho de volta pra casa. O xamanismo que vemos por aí pode muitas vezes disfarçar-se nas vestes do modismo, nas suas vertentes “nova era”, na sua versão exploratória de espiritualidades e culturas ancestrais, mas a medicina tradicional é um caminho que exige comprometimento, comprometimento consigo mesmo, com o sagrado, e com toda uma herança de nossos antepassados que ainda sobrevive e pode ser acessada na busca da cura.
Vivemos em uma época onde a informação se torna muito acessível às pessoas. Hoje se tem acesso a coisas incríveis, a livros, textos, pessoas… E por trás disso, há um mundo que sufoca as potencialidades humanas, tentando colocá-las dentro de regras prestabelecidas e massificadoras. Uma grande parte tem se dado conta de que a vida transcende a isso que é tão vulgar, tão limitado. A própria informação disponível tem gerado uma inquietação geral, seja bitolando as pessoas cada vez mais, ou abrindo-lhes as portas de coisas antes desconhecidas. Tirando esse lado social e tecnológico, há a tentativa de uma busca de maior integração, maior aceitação e, em muitos casos, existe a busca do antídoto contra o veneno que a própria sociedade criou. Será?
A gama espiritual que se abriu diante dessa situação é muito grande e, em alguns casos, a busca espiritual para certas criaturas chega a ser desesperadora, tamanha é a vontade de interagir com o mundo de outra forma. Mas nesses caminhos, muitos enganam a si próprios, outros trilham uma parte e se dão por satisfeitos, mas poucos realmente chegam a um ponto bem mais coerente e desenvolvido de sua busca espiritual. O que vemos é que, na maioria das vezes, os interesses próprios suplantam o respeito pelo Conhecimento. A ganância toma conta das experiências espirituais, o Conhecimento vira moeda de troca, a importância pessoal e o status mostram que a armadilha dos egos permanece ainda ali na espreita, e isso mostra que não há processo profundo de cura, nem de conhecimento de si mesmo e muito menos trabalho interior. Somos de alguma forma apenas humildes mensageiros do Conhecimento, e devemos ser capazes de nos darmos conta do compromisso que assumimos com toda uma egrégora ancestral. Neste ponto não deve haver mácula por interesses pessoais quando tratamos de cerimônias ancestrais. Trabalhar e ganhar sim, porque ninguém é máquina, precisa viver, mas comprometimento com o Sagrado acima de qualquer coisa.
Estamos no auge da troca entre as pessoas, o que as proporciona uma maior integração com o que não era conhecido, ou acessível a tantos. Vejo uma vontade impulsionando essa integração, inclusive nativos se abrindo mais para passarem seus conhecimentos com a finalidade que de alguma forma eles sobrevivam e, conseqüentemente, que sua herança cultural e espiritual não seja apagada da face da Terra. As pessoas, em geral, estão ficando muito abertas para conhecerem mais suas origens.
De alguma maneira a máscara das diferenças culturais está caindo, as pessoas estão aventurando-se por outros campos e abrindo-se para novas experiências. Pode ser que a mola propulsora de tudo isso não seja essa sociedade tecnológica, mas sim a grande solidão em que se encontram os seres humanos, desprovidos de suas potencialidades e necessitando buscar suas origens. Nessa sociedade tão massificadora talvez a busca espiritual seja uma forma de caracterizar a busca de suas origens, de sua história pessoal e, porque não, a cura.
Talvez seja até uma idéia romântica a minha, mas vejo uma boa parte deixando que caiam as barreiras culturais, como a profecia inca, ou a roda do arco-íris dos nativos americanos, aonde chegará um momento em que haverá uma tomada de consciência geral… será que estamos nesse caminho?
Gratidão,
Tatiana Menkaiká